FOI CONFIRMADO: 17 anos após crime Alexandre Nardoni acabou sendo… Ver mais

Na tarde silenciosa desta segunda-feira, 6 de maio, um carro comum deixou discretamente os portões da penitenciária de Tremembé, interior de São Paulo. Dentro dele, estava um nome que há mais de uma década causa calafrios na memória coletiva do Brasil: Alexandre Nardoni, pai da menina Isabella, condenado por jogá-la do sexto andar de um prédio na Zona Norte da capital paulista, em 2008.
Sem algemas, sem holofotes e sem palavras, Nardoni deixava para trás a cela onde passou os últimos 16 anos — e adentrava, oficialmente, o regime aberto, com autorização da Justiça para viver em liberdade sob determinadas condições. A notícia caiu como uma bomba, reabrindo discussões sobre justiça, punição, memória e perdão. E, sobretudo, deixando uma pergunta ecoando no ar: o que significa justiça quando o crime é imperdoável?
Uma liberdade anunciada — e temida
O pedido de progressão para o regime aberto havia sido apresentado pela defesa de Alexandre há cerca de um mês. Nesta segunda, a Justiça acolheu o pedido, alegando que o condenado já cumpriu mais da metade da pena e apresenta bom comportamento.
“Verifica-se dos autos que o sentenciado mantém boa conduta carcerária, possui situação processual definida, teve o Relatório Conjunto e Avaliação com parecer favorável e não registra faltas disciplinares”, escreveu o juiz José Loureiro Sobrinho, em decisão publicada no início da tarde.
O magistrado reforçou que, apesar da gravidade do crime, não há impeditivos legais para a progressão de regime, conforme determina a Lei de Execução Penal. Segundo o juiz, Nardoni também retornou regularmente das saídas temporárias que teve direito, o que contribuiu para a concessão do benefício.
Regras para a nova vida em liberdade
A liberdade de Nardoni, no entanto, não será irrestrita. Ele deverá seguir uma série de exigências impostas pela Justiça para permanecer em regime aberto. Entre elas:
- Comparecer trimestralmente à Vara de Execuções Criminais;
- Comprovar vínculo de trabalho ou ocupação lícita em até 90 dias;
- Permanecer em casa entre 20h e 6h;
- Não frequentar bares ou estabelecimentos similares;
- Não mudar de endereço ou de comarca sem autorização judicial.
Agora, Alexandre irá residir na cidade de São Paulo, onde viverá com familiares.
Isabella: uma memória que o tempo não apaga
O nome de Isabella Nardoni, brutalmente assassinada aos cinco anos de idade, permanece entre os mais lembrados quando o assunto é violência doméstica e infanticídio. O caso gerou comoção nacional e levou milhares às ruas clamando por justiça. O julgamento de Alexandre e sua esposa, Anna Carolina Jatobá, em 2010, foi um dos mais acompanhados da história do país — com cobertura ao vivo e multidões na porta do tribunal.
Ambos foram condenados por homicídio triplamente qualificado. A promotoria defendeu que Isabella foi agredida e, ainda viva, arremessada da janela do apartamento do pai. Anna Carolina Jatobá permanece presa, ainda cumprindo pena em regime fechado.
Indignação e um debate que nunca cessou
A liberdade de Nardoni gerou imediata reação nas redes sociais e entre organizações que atuam na defesa da infância. Para muitos, o sentimento é de revolta: “Como é possível um homem que matou sua própria filha voltar a viver normalmente?”, questionou uma internauta, refletindo a indignação de milhares de brasileiros que acompanharam o caso de perto.
Por outro lado, há quem defenda o cumprimento rigoroso da lei, mesmo diante de crimes horrendos. “Se queremos um Estado de Direito, precisamos respeitar as normas que valem para todos, inclusive para os que cometeram crimes bárbaros”, argumentou um jurista criminal consultado por nossa reportagem.
Justiça foi feita?
O caso Nardoni nunca foi apenas um processo judicial. Foi uma ferida aberta na consciência de um país. O crime contra Isabella revelou as sombras que podem se esconder dentro das famílias e acendeu um alerta sobre os sinais de violência doméstica, que muitas vezes passam despercebidos.
Agora, com a liberdade de Alexandre, a sensação de impunidade volta a rondar parte da opinião pública. Para outros, o debate deve se voltar à ressocialização e aos limites legais da punição.
E o país, mais uma vez, se divide
Enquanto Nardoni inicia uma nova vida fora dos muros da prisão, a sociedade brasileira encara mais uma vez os limites da justiça e a complexidade do perdão. Em um país em que a memória dos crimes se entrelaça com o clamor popular, a pergunta que permanece é: quando o assassino de uma criança é posto em liberdade, quem fica verdadeiramente em cárcere — ele ou a consciência coletiva de um país inteiro?
