LUTO NA GLOBO: Morre querido ator da novela PANTANAL, desc… Ver mais

Por trás das câmeras, havia um guerreiro. Um artista que enfrentava o palco da vida com a mesma entrega com que interpretava seus personagens. E agora, o silêncio da cortina fechada se impõe. Silvio Pozzatto, ator da primeira versão de “Pantanal”, nos deixou. Mas sua história — marcada por talento, resistência e uma incansável paixão pela arte — merece ser contada até o último ato.
Na tarde desta segunda-feira, 30, a arte perdeu um de seus nomes discretos, porém essenciais. Silvio Pozzatto, 67 anos, conhecido por seu papel como Rúbem na icônica versão de 1990 de “Pantanal”, morreu sem alarde, sem explicações oficiais. A causa da morte não foi revelada, mas há tempos o ator convivia com a dura realidade da doença de Parkinson. Um inimigo implacável, que ele enfrentou sem jamais baixar a guarda.
Desde 2022, Pozzatto vivia no Retiro dos Artistas, uma instituição localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro que acolhe nomes marcantes da cultura brasileira. Lá, entre corredores de memórias e vozes que um dia ecoaram nos palcos e nas telas, Silvio encontrou refúgio — e também palco para sua resistência.
Uma Luta Silenciosa
Nos primeiros meses de 2025, a saúde de Silvio oscilou perigosamente. Ele foi internado duas vezes: a primeira, para uma cirurgia no fêmur. A segunda, resultado de uma complicação inesperada — o deslocamento da prótese. Dois golpes difíceis em um corpo já fragilizado, mas que mantinha viva a chama do artista.
O ator Leonardo Netto, amigo próximo, usou as redes sociais para prestar uma homenagem emocionada e reveladora:
“Triste demais. Nosso querido Sílvio Pozzatto nos deixou de repente. Mesmo vivendo há anos com Parkinson, ninguém estava esperando. Ele não se entregou à doença, nunca. Vai em paz, meu amigo”.
Não se entregar. Esse era, de fato, o estilo Silvio de viver. Em entrevista ao jornal Extra, ele revelou seu desejo mais íntimo: recuperar a fala e os movimentos com um implante eletrônico no cérebro. “Quero voltar a atuar”, afirmou com brilho nos olhos. Nem mesmo o incômodo com fotos descuidadas — “sem fazer a barba”, como ele dizia — apagava seu humor afiado e seu desejo de reencontro com o ofício que o moldou.
Mais do que um Rosto Conhecido
Embora muitos o associem imediatamente à “Pantanal”, Silvio Pozzatto acumulava um currículo vasto. Atuou em mais de dez novelas, entre elas a aclamada “Roque Santeiro”. No teatro, percorreu os caminhos de grandes montagens. Fora das artes cênicas, revelava outro talento: a fotografia. Foram mais de 40 campanhas publicitárias e uma lente sensível que também contava histórias, só que em silêncio.
Amigos próximos relatam que, mesmo afastado dos holofotes, Pozzatto recebia com frequência visitas de colegas de profissão, como Malu Mader e Patricia Pillar. Momentos simples, mas que revelam a importância de sua presença na memória afetiva de toda uma geração de artistas.
Um Personagem de Verdade
Na ficção, Silvio interpretava Rúbem, um amigo leal e presente na trama de “Pantanal”. Na vida real, esse papel não era diferente. Quem conviveu com ele descreve um homem gentil, dono de uma sabedoria silenciosa, que preferia os bastidores à autopromoção. Mas quem o conheceu bem sabia: o brilho do talento era impossível de apagar.
Sua história talvez não tenha sido marcada por manchetes frequentes, mas, como os grandes artistas, Silvio Pozzatto construiu uma trajetória sólida, discreta e profundamente humana. A arte brasileira perde mais do que um ator; perde um daqueles personagens reais que seguravam os bastidores com firmeza e coração.
O Último Ato
A despedida de Silvio Pozzatto é daquelas que nos pegam desprevenidos. Não por desconhecimento de sua doença, mas pela maneira como ele nos fazia esquecer dela. Seu sonho de voltar aos palcos, mesmo diante das limitações físicas, é a prova viva de que a paixão pela arte é, muitas vezes, mais forte que o próprio corpo.
Hoje, o Retiro dos Artistas amanhece mais silencioso. A televisão, o teatro e a fotografia perdem uma de suas vozes sensíveis. Mas as histórias que ele ajudou a contar — e as que ele mesmo protagonizou — permanecerão vivas na memória dos que sabem que a arte, assim como o amor, não termina com a ausência. Apenas muda de forma.
