FIM DOS TEMPOS: Mulher da a luz a bebê em shopping em seguida tenta mat@-lo com.. Ver mais

O que parecia ser uma sexta-feira comum no movimentado shopping de Araçatuba (SP) se transformou em uma cena digna de um thriller policial. Entre o vai e vem de clientes, um segredo chocante se escondia atrás da porta de um banheiro. Um segredo que chorava, respirava — e lutava para sobreviver.
Era por volta das 19h quando colegas de uma funcionária de 18 anos, que atuava em uma loja de vestuário do centro de compras, perceberam que algo não estava certo. Ela havia dito que sentia fortes dores renais e se refugiou no banheiro. Mas o tempo passava, e a ausência prolongada acendeu o alerta. Preocupadas, suas colegas decidiram pedir ajuda.
A bombeira civil do shopping foi acionada. Bateu à porta, chamou por ajuda — mas nenhum retorno. A decisão foi rápida: forçar a entrada. O que ela encontrou ali não poderia ser descrito como uma simples emergência médica. O chão estava coberto de sangue, e a jovem, visivelmente em choque, estava sentada ao lado de uma mochila fechada.
Mas foi o som abafado que veio de dentro da bolsa que mudou tudo. Um choro. Frágil. Vivo.
Com o coração acelerado, a bombeira exigiu uma explicação. A jovem, num fio de voz, confirmou: havia um bebê dentro da mochila.
Quando a bolsa foi aberta, a cena era perturbadora. A recém-nascida estava ali, enrolada em um pano e com um saco plástico enrolado no pescoço. A intervenção imediata salvou a criança, que foi levada às pressas para atendimento médico. Internada, a bebê permanece em estado de saúde estável.
A jovem mãe também foi hospitalizada sob escolta da Polícia Militar. O relato dela à Polícia Civil revelou o que, até aquele momento, era apenas um quebra-cabeça sombrio.
Ela contou que escondeu a gravidez de todos — inclusive dos pais — por medo da reação deles. Sozinha e sem apoio, entrou em trabalho de parto dentro do banheiro do shopping. Ali, deu à luz. E ali também, segundo seu próprio depoimento, tentou silenciar o choro da filha.
Ainda conforme o boletim de ocorrência, a jovem admitiu que usou o saco plástico para tentar abafar o som e chegou a encostar uma tesoura no pescoço da bebê. “Pensei em fazer, mas não consegui”, disse ela. Seu plano, segundo relatou, era sair do shopping com a criança escondida na mochila e entregá-la em um hospital para adoção.
Mas o tempo — e o choro de uma vida recém-chegada — não permitiram.
Na mochila, a polícia encontrou uma pequena pá de jardinagem e duas tesouras, objetos que podem ter sido utilizados durante o parto. Todos foram apreendidos para perícia. O banheiro do shopping também passou por análise técnica, e o Conselho Tutelar foi acionado imediatamente.
A jovem foi autuada em flagrante por tentativa de infanticídio. A prisão foi decretada, e ela deverá passar por audiência de custódia tão logo receba alta hospitalar. Apesar da gravidade dos fatos, o caso também abre espaço para um debate urgente: o abandono materno, o medo social e a falta de apoio a jovens em situação de vulnerabilidade.
A recém-nascida, por sua vez, agora é foco das atenções do sistema de proteção. Conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a prioridade é encaminhá-la à família extensa — avós, tios ou outros parentes que possam assumir sua guarda. Caso isso não seja possível, ela poderá ser acolhida provisoriamente até que o Ministério Público e a Vara da Infância decidam seu futuro.
Em nota oficial, a administração do shopping informou que prestou todo o suporte necessário à jovem e à bebê e que está colaborando com as autoridades nas investigações.
Por trás da frieza dos autos, permanece o eco de um choro abafado. Um choro que, felizmente, foi ouvido a tempo. Mas que também grita, silenciosamente, por uma sociedade mais atenta, mais acolhedora e menos punitiva diante de dramas que se desenrolam no silêncio — até que o inesperado estoure, como estourou naquela sexta-feira à noite.
