Após tarifaço: Trump fala pela primeira vez sobre Lula e Bolsonaro, disse q… Ver mais

Em mais um capítulo de tensões políticas com impacto direto sobre a economia global, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu o embate com o Brasil ao anunciar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. O movimento, que surpreendeu autoridades brasileiras e analistas internacionais, foi oficializado por meio de uma carta enviada diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O conteúdo do documento, amplamente divulgado nas redes sociais, incluiu críticas diretas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e exigências consideradas “inaceitáveis” por Lula.
O anúncio repercutiu como um terremoto político e comercial. Trump, que mantém forte influência sobre o Partido Republicano e articula uma possível candidatura em 2028, usou a carta para defender seu aliado Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, atualmente investigado por tentativa de golpe após as eleições de 2022.
“Ele era um homem honesto, amava o povo brasileiro”, declarou Trump em coletiva de imprensa em Washington, antes de embarcar para o Texas. “Bolsonaro foi um negociador duro, mas justo.” Em contraste, Trump evitou críticas diretas a Lula, mas deixou claro que uma conversa entre os dois líderes sobre as tarifas “poderá acontecer no futuro, mas não agora”.
Tarifa como instrumento de pressão política
O aumento da tarifa para 50%, previsto para entrar em vigor no dia 1º de agosto, foi acompanhado de uma ameaça: se o Brasil retaliar, Trump promete subir ainda mais a taxação sobre os produtos brasileiros. “Qualquer aumento da parte do Brasil será somado aos 50% já anunciados”, diz um trecho da carta.
Entre os produtos mais afetados estão aço, petróleo, aeronaves, celulose, café, carne e suco de laranja — setores estratégicos para a balança comercial brasileira. A decisão afeta diretamente a relação com o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
Lula reage e cita Lei de Reciprocidade
Lula classificou a carta como “uma afronta à soberania do Judiciário brasileiro” e criticou duramente a tentativa de Trump de intervir em assuntos internos. “É grave. Um presidente não pode interferir nos poderes de outro país. A carta é ofensiva, contém erros e será devolvida oficialmente”, afirmou o presidente durante evento no Espírito Santo.
Ele também responsabilizou diretamente Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, pelo tarifaço. “Esse pessoal covarde que tentou dar um golpe agora quer usar o Trump para pressionar o Brasil. Eles não têm coragem de responder à Justiça brasileira e ficam conspirando fora do país”, disse Lula, usando um boné azul com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, numa resposta simbólica ao clássico boné vermelho de Trump.
O papel de Eduardo Bolsonaro e os bastidores da carta
Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado, está nos EUA desde março e afirmou, em nota conjunta com o jornalista Paulo Figueiredo, que manteve “intenso diálogo com autoridades do governo Trump”. A carta, segundo ele, seria o reflexo direto desses contatos.
Embora sem cargo oficial no governo dos EUA, Trump continua exercendo influência nos bastidores, especialmente entre setores conservadores e do empresariado americano, que ainda veem em Bolsonaro uma ponte ideológica com o trumpismo.
Impacto nas relações internacionais
A resposta brasileira veio rápida: o Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, Gabriel Escobar, duas vezes na última semana. A atitude, considerada de alta gravidade no protocolo diplomático, revela o nível de insatisfação do governo Lula com a escalada da tensão.
A secretária do Itamaraty para América do Norte e Europa, Maria Luisa Escorel, disse que o Brasil estuda medidas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e poderá acionar a recém-sancionada Lei de Reciprocidade Econômica, que autoriza retaliações comerciais a países que impõem barreiras aos produtos brasileiros.
O que está em jogo: comércio e geopolítica
Os Estados Unidos compraram, nos primeiros cinco meses de 2025, cerca de US$ 16,7 bilhões em produtos brasileiros, segundo dados da Amcham Brasil — um aumento de 5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os EUA são também o principal destino das exportações brasileiras de manufaturados, com destaque para petróleo, aço e produtos alimentícios.
Paradoxalmente, Trump justificou o tarifaço com base em um suposto déficit comercial dos EUA em relação ao Brasil. No entanto, dados oficiais do governo brasileiro mostram o contrário: o saldo foi positivo para os americanos em cerca de US$ 300 milhões no ano passado. Ao longo dos últimos 15 anos, os EUA acumularam um superávit de mais de US$ 400 bilhões nas trocas com o Brasil.
Repercussão internacional
A atitude de Trump foi criticada por especialistas em comércio internacional. O economista Paul Krugman, vencedor do Nobel, classificou a carta como “megalomaníaca” e alertou que a nova postura do republicano representa uma guinada perigosa na política tarifária americana. Para Krugman, usar tarifas como retaliação política fere os princípios do livre comércio e compromete a credibilidade internacional dos EUA.
Nos bastidores, o governo Lula avalia alternativas diplomáticas e comerciais, incluindo a intensificação de parcerias com a União Europeia, China e países do Brics. Se o impasse se mantiver, o Brasil poderá recorrer a medidas duras de retaliação.
A escalada entre Lula e Trump escancara que, mais do que uma disputa comercial, está em jogo o futuro das relações políticas entre as duas maiores democracias das Américas — e, por extensão, o equilíbrio geopolítico em tempos de pós-globalização e polarização ideológica.
