Ansioso por julgamento, Moraes acelera caso de Bolsonaro e diz q… Ver mais

Por trás das portas fechadas da Primeira Divisão do Exército, na Vila Militar do Rio de Janeiro, uma decisão aparentemente rotineira está redesenhando os bastidores do Supremo Tribunal Federal. A permanência do general Walter Braga Netto atrás das grades, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, gerou um impacto que vai muito além da cela em que ele se encontra. O efeito cascata dessa prisão antecipou o calendário de um dos julgamentos mais esperados do país: o de Jair Bolsonaro.
O silêncio de um general e a pressa da Justiça
Desde que Braga Netto foi preso, em dezembro do ano passado, por suspeita de interferência nas investigações da tentativa de golpe de Estado, sua detenção se tornou uma peça-chave na engrenagem jurídica que envolve a cúpula do antigo governo. De acordo com fontes ouvidas pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, o fato de haver um réu preso obriga o Supremo a seguir um ritmo diferente — mais rápido, mais rígido e sem pausas.
A lei é clara: quando há réus presos, os prazos judiciais não entram em recesso. E é exatamente isso que está acontecendo. Enquanto o Judiciário entra oficialmente em descanso de 2 a 31 de julho, o processo que envolve Bolsonaro e demais integrantes do chamado “núcleo crucial” da trama golpista seguirá correndo, sem trégua.
Uma corrida contra o tempo (e contra a troca de comando no STF)
O efeito prático dessa urgência? O julgamento na Primeira Turma do STF deve acontecer até meados de setembro — pelo menos um mês antes do que era esperado inicialmente. Essa antecipação não é apenas técnica; é estratégica. No dia 29 de setembro, o atual presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, passará o comando ao ministro Edson Fachin. Na mesma cerimônia, Alexandre de Moraes — que conduz com mãos firmes os processos do 8 de janeiro e os desdobramentos da tentativa de golpe — assumirá a vice-presidência do STF.
Isso significa que o futuro político e criminal de Bolsonaro será decidido ainda sob a presidência de Barroso, com Moraes atuando diretamente na linha de frente. Nos bastidores, essa configuração é vista como decisiva para o desfecho do caso.
Braga Netto: o peão que virou torre
A prisão do general Braga Netto parecia, à primeira vista, apenas mais uma etapa da ofensiva jurídica contra os articuladores da tentativa de ruptura democrática. Mas a estratégia de mantê-lo detido teve um efeito inesperado: obrigou o Supremo a acelerar seus próprios mecanismos, pressionando o calendário e os ministros envolvidos.
Para justificar a continuidade do processo durante o recesso, Moraes recorreu ao Regimento Interno da Corte, que abre uma exceção para casos em que há risco de prescrição ou réu preso — ambas as condições presentes no atual cenário. Assim, enquanto outros processos dormem em gavetas durante o recesso, o caso Braga Netto-Bolsonaro seguirá em marcha acelerada.
A movimentação provocou desconforto entre os advogados da defesa. Nos corredores dos tribunais, eles já discutem a dificuldade de elaborar estratégias dentro de prazos tão apertados. A expectativa agora é de que a defesa intensifique seus esforços durante o mês de julho, tentando ao menos adiar o inevitável.
Bolsonaro na berlinda
Com o julgamento se aproximando, cresce a tensão sobre Jair Bolsonaro. O ex-presidente é apontado como o centro gravitacional da suposta conspiração golpista, e sua condenação (ou absolvição) pode mudar drasticamente o rumo da política brasileira nos próximos anos. Se condenado, Bolsonaro poderá ser impedido de disputar cargos públicos por décadas, além de enfrentar penas mais severas.
Nos bastidores, aliados políticos já se movimentam em busca de alternativas eleitorais, enquanto a militância tenta manter vivo o apoio ao ex-presidente nas redes e nas ruas. Mas o tempo, que antes parecia jogar a favor de Bolsonaro, agora corre contra ele — tudo por causa de uma cela militar no Rio de Janeiro.
O tabuleiro em movimento
O que era para ser apenas mais um capítulo da longa saga jurídica que envolve o bolsonarismo se transformou em um ponto de virada. A permanência de Braga Netto na prisão não apenas trouxe à tona a rigidez do regimento da Suprema Corte, como também revelou o grau de articulação e estratégia por trás das decisões judiciais.
A narrativa se acelera. Os personagens estão em posição. E o desfecho — ao que tudo indica — acontecerá mais cedo do que muitos previam. A pergunta que paira no ar é: quem sairá de cena primeiro — o general calado ou o ex-presidente sitiado?
Enquanto isso, o Supremo se movimenta. Silencioso, mas implacável.
