Brasil de luto: Morre querida cantora após… Ver mais

A música perdeu uma de suas vozes mais singulares. Cleo Laine, ícone do jazz mundial e referência do teatro musical, faleceu aos 97 anos, conforme comunicado oficial divulgado por seus filhos ao jornal The Guardian. Com uma carreira que se estendeu por mais de sete décadas, Cleo cantou ao lado de lendas como Frank Sinatra, Ray Charles e Ella Fitzgerald, deixando uma marca profunda e atemporal na cultura musical do século XX.
Nascida em 1927 nos arredores de Londres, Cleo Laine era filha de mãe inglesa e pai jamaicano — uma mistura que refletia não apenas em sua aparência marcante, mas também na riqueza cultural de sua voz e interpretação. Antes de se dedicar integralmente à música, teve uma trajetória de vida modesta e diversa: trabalhou como cabeleireira, chapeleira e até bibliotecária. Mas foi a paixão pela música que guiou seu destino.
Um recomeço após o divórcio
A vida de Cleo deu uma guinada ainda jovem. Casou-se na adolescência, teve um filho e, após o fim do casamento, decidiu seguir seu verdadeiro sonho: tornar-se cantora profissional. Em 1951, deu um passo fundamental ao integrar a banda do saxofonista e compositor John Dankworth — um dos maiores nomes do jazz britânico. Mais do que parceiros musicais, os dois se apaixonaram e se casaram oficialmente em 1958. O relacionamento deu início a uma das parcerias mais sólidas e respeitadas da cena jazzística da Europa.
Foi nesse período que nasceu “Cleo Laine”, nome artístico criado por seus colegas da banda, que consideravam seu nome de batismo pouco atrativo para o mundo do showbiz. A escolha não poderia ter sido mais acertada: Cleo Laine se tornaria sinônimo de elegância, sofisticação e excelência vocal.
O lar do jazz britânico
Mais do que uma residência, a casa de Cleo e Dankworth nos arredores de Londres transformou-se em um santuário para grandes músicos do jazz. Por lá passaram nomes como Ella Fitzgerald, Oscar Peterson e Dizzy Gillespie. O espaço era mais do que uma sala de estar — era um palco de encontros criativos, onde o improviso e a camaradagem floresciam em harmonia.
O casal chegou a construir um auditório particular em sua propriedade, onde promoviam concertos e incentivavam novos talentos. Era ali que a música acontecia em sua forma mais pura, cercada por natureza, amigos e uma plateia íntima, mas sempre atenta.
Palcos internacionais e reconhecimento mundial
A voz de Cleo Laine ecoou pelo mundo. Ela se apresentou em locais emblemáticos como o Lincoln Center, em Nova York, e o icônico Carnegie Hall, onde uma de suas performances foi gravada e premiada com um Grammy. Seu domínio vocal — que ia do grave a notas agudíssimas — era sua marca registrada. Cleo não apenas cantava jazz, mas também flertava com o blues, o pop, a música clássica e os musicais da Broadway. Sua versatilidade conquistou plateias exigentes e multidões apaixonadas.
Em 1992, realizou uma apresentação memorável ao lado de Frank Sinatra em Londres. Anos antes, já havia gravado a emblemática obra Porgy and Bess com Ray Charles — uma parceria que rendeu aplausos da crítica internacional. Cleo não era apenas uma intérprete; era uma contadora de histórias com a voz.
Uma mulher de palco até o fim
Após a morte de John Dankworth, em 2010, Cleo Laine demonstrou uma força que comoveu o mundo artístico. Na mesma noite em que perdeu o marido e parceiro de vida, subiu ao palco como prometido. Apenas ao final da apresentação, já com os aplausos ecoando, compartilhou com o público a dolorosa notícia. A atitude resumiu o espírito da artista: comprometida com a arte até o fim, mesmo diante da perda mais profunda.
Seus filhos, que também seguiram carreira na música, preservam até hoje o legado da família. E Cleo, mesmo após sua partida, continua sendo referência para novas gerações de músicos e intérpretes que encontram em sua obra uma fonte inesgotável de inspiração.
Um legado que transcende o tempo
Cleo Laine foi mais do que uma cantora: foi uma embaixadora da música de qualidade, da diversidade e da emoção genuína. Com sua voz inconfundível e sua presença de palco hipnotizante, ela rompeu barreiras de gênero, raça e estilo musical.
Sua morte representa o fim de uma era, mas também o início de uma redescoberta — daquelas que acontecem quando o tempo nos dá a distância necessária para entender a grandeza de um legado. A música, certamente, nunca será a mesma. E Cleo Laine, com sua voz que parecia abraçar o mundo, seguirá eternamente viva nas gravações, nos palcos que aplaudiram sua arte e nos corações de quem teve o privilégio de ouvi-la.






