Luto na Globo: Morre querido ator é deixa o Brasil entristecido, o nosso… Ver mais

Era uma manhã comum no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. O sol atravessava as janelas silenciosas da instituição que abriga grandes nomes do passado artístico brasileiro. Mas naquela manhã, o silêncio não era apenas cotidiano — ele anunciava uma ausência irreparável. Um dos rostos mais queridos da teledramaturgia nacional havia partido.
O ator Sílvio Pozatto, cuja carreira brilhou intensamente nos anos 80 e 90, não resistiu a complicações pós-operatórias. Aos olhos do público, sua luta era discreta, quase silenciosa, mas internamente travava uma batalha contínua contra a doença de Parkinson. Ainda assim, mesmo sob os efeitos da enfermidade, havia algo que nunca o abandonou: o desejo de voltar aos palcos, às câmeras, ao ato de emocionar.
Um Sonho Persistente, Interrompido pelo Destino
Por anos, o artista viveu de forma reservada no Retiro dos Artistas, onde era carinhosamente cuidado por uma equipe que respeitava não só sua saúde frágil, mas também sua história imortal. Ele ainda fazia planos, mantinha rotinas, e falava com brilho nos olhos sobre possíveis participações especiais — talvez em uma novela, quem sabe em um filme nacional.
Mas o inesperado se impôs. Uma cirurgia no fêmur, inicialmente considerada simples, tornou-se o ponto de virada em sua condição. “Ele estava bem. A recuperação caminhava”, afirmou Cida Cabral, administradora do Retiro. “Mas o quadro se agravou de forma repentina. Foi tudo muito rápido.”
Esse tipo de reviravolta brutal e imprevisível é um lembrete cruel de que nem mesmo os mais resistentes escapam à vulnerabilidade da existência.
Um Artista Que Marcou Gerações
Embora a nova geração talvez o reconheça de reprises ou homenagens em datas comemorativas, os que cresceram na era dourada da TV aberta o conhecem de cor. Seu papel mais marcante foi o de Rubem, na primeira versão da icônica novela Pantanal, exibida em 1990. O Brasil inteiro se emocionou com a trama que misturava natureza, paixão e misticismo — e ele estava lá, no coração dessa história.
Sua interpretação em Pantanal foi a porta que o conduziu a uma galeria de personagens memoráveis. Em Roque Santeiro, mostrou versatilidade. Em Belíssima, provou maturidade dramática. Em Ti Ti Ti e Cheias de Charme, fez rir e refletir, equilibrando humor e crítica social com maestria.
Não era apenas um ator. Era um contador de histórias. Um rosto que habitava as noites dos brasileiros com a familiaridade de um parente querido.
Do Brilho das Telas ao Silêncio do Retiro
Nos últimos anos, os holofotes já não estavam mais sobre ele — ao menos não os visíveis. Mas dentro do Retiro, suas memórias eram vivas. O ator não era apenas lembrado; era celebrado pelos colegas, pelos profissionais da saúde, pelos poucos amigos que ainda o visitavam. Reunia-se para assistir novelas antigas, comentar bastidores, rir dos erros de gravação e lembrar os tempos de camarim.
Mesmo com o Parkinson, nunca perdeu o olhar atento de ator. Observava tudo ao redor com a mesma sensibilidade que levou às telas por décadas. Tinha lapsos de lucidez emocionantes. Em um desses momentos, confidenciou: “A arte me salvou. E vai continuar salvando outros, mesmo depois que eu me for.”
Homenagens e Reconhecimento Tardio
A notícia de sua morte mobilizou redes sociais, colegas de profissão e fãs. Muitos lamentaram não apenas a perda, mas a invisibilidade a que o ator foi submetido nos últimos anos. O sindicato dos artistas e a Rede Globo prometeram homenagens nos próximos dias. Um especial já está sendo preparado com trechos marcantes de sua carreira.
Mais que homenagens póstumas, sua trajetória levanta uma questão incômoda: quantos artistas geniais envelhecem longe da luz que os consagrou, esquecidos por um público que um dia os aplaudiu de pé?
O Legado que Fica
Ainda que o fim tenha sido silencioso, seu impacto não será. As novelas em que atuou continuam sendo vistas, discutidas e amadas. Seus personagens vivem nas reprises, nos arquivos da memória nacional, e nos corações de quem foi tocado por sua arte.
O último ato chegou. Mas os aplausos, esses continuam.
